domingo, 7 de agosto de 2011


Introdução



O SBV em Pediatria consiste da promoção de RCP, sem equipamento ou com ventilação com bolsa-máscara ou equipamentos de barreira, até que possa ser oferecido suporte avançado de vida (SAV). A população alvo deste capítulo inclui lactentes do nascimento até 1 ano de idade e crianças de 1 a 8 anos de idade.

RCP e suporte de vida na faixa etária pediátrica devem ser parte de uma ampla Corrente da Sobrevivência da comunidade que liga a criança às melhores expectativas de sobrevivência no decorrer de emergências. A Corrente da Sobrevivência integra educação em prevenção da parada cardiopulmonar, SBV, acesso precoce aos sistemas de SME preparados para as necessidades de crianças, SAV pediátrico precoce e efetivo, e cuidados pediátricos pós ressuscitação e reabilitação (Figura 01).

Parada cardiopulmonar súbita em lactentes e crianças é muito menos comum que parada cardíaca súbita em adultos. Em contraste com a parada cardíaca em adultos, a parada cardíaca em lactentes e crianças é raramente um evento súbito, e as causas não cardíacas predominam.4 A etiologia da parada cardíaca em lactentes e crianças varia conforme a idade, local, e as condições de base de saúde da criança. Por estas razões, a seqüência da RCP para lactentes e crianças requer uma abordagem diferente da utilizada em vítimas adultas.

Parada cardíaca na faixa etária até 21 anos ocorre mais comumente nos extremos deste espectro de idade: abaixo de 1 ano e durante a adolescência. Na criança recentemente-nascida, falência respiratória é a causa mais comum de deterioração cardiopulmonar e parada. Nos lactentes as causas mais comuns de parada incluem síndrome da morte súbita, doenças respiratórias, obstrução de vias aéreas (incluindo aspiração de corpo estranho), submersão, sepse, e doenças neurológicas.5-11 A partir de 1 ano de idade, trauma é a principal causa de morte.12-14

Parada cardíaca em crianças tipicamente representa o evento terminal da progressão do choque ou falência respiratória. Tanto choque quanto falência respiratória podem incluir um estado compensado, do qual a criança pode rapidamente deteriorar para uma condição descompensada com progressão para parada respiratória ou cardíaca. Sendo assim, os socorristas devem reconhecer e prontamente tratar sinais precoces de falência respiratória e circulatória para prevenir a parada cardíaca. Em crianças, RCP precoce e efetiva por quem testemunha a parada tem sido associada com sucesso no retorno da circulação espontânea e sobrevida sem seqüelas neurológicas.15,16 Devem ser oferecidos cursos de SBV a populações alvo, como pais, babás, professores, monitores de esportes e outras pessoas que regularmente cuidam de crianças. Pais e babás que cuidam de crianças com condições de base que as predispõem à falência cardiopulmonar devem ser particularmente alvo destes cursos.

Estas diretrizes são baseadas na revisão e análise de evidências clínicas e experimentais17. Uma vez que a qualidade e a quantidade destas evidências variam largamente, cada nova recomendação desta diretriz inclui informação sobre a força dos dados científicos na qual foi baseada. Em adição, um resumo das classes de recomendação foi indicado. Para mais informação sobre o processo de avaliação das evidências, veja Avaliação Baseada em Evidência na "Parte 1: Introdução."

Em toda a diretriz, as seguintes definições de classes de recomendações foram utilizadas:

- Classe I - recomendações são sempre aceitáveis. Elas são comprovadamente seguras, definitivamente úteis, e são sustentadas por excelente evidência de pelo menos 1 ensaio clínico prospectivo, randomizado e controlado.


- Classe IIa - recomendações são consideradas aceitáveis e benéficas com sustentação por evidências boas a muito boas. O peso das evidências e a opinião de especialistas são fortemente a favor destas intervenções.


- Classe IIb - recomendações são consideradas aceitáveis e benéficas, sustentadas por evidências fracas ou apenas moderadas. O peso das evidências e a opinião dos especialistas não são muito favoráveis à intervenção.


- Classe III - refere-se a intervenções que são inaceitáveis. Faltam evidências de benefício e freqüentemente as evidências sugerem ou confirmam riscos com estas intervenções.


- Classe Indeterminada - refere-se a uma intervenção que é promissora, mas a evidência é insuficiente em quantidade e/ou qualidade para sustentar uma classe definitiva de recomendação. A classe indeterminada foi acrescentada para indicar intervenções que são consideradas seguras e talvez efetivas e que são recomendadas pelos consensos de especialistas. Entretanto, a evidência disponível sustentando a recomendação é muito fraca e/ou muito limitada até o presente para fazer uma recomendação definitiva baseada nos dados publicados.

Níveis de evidência e classes de recomendações são inteiramente definidas na "Parte 1: Introdução." Idealmente, tratamentos de escolha são sustentados por evidências excelentes e são recomendação Classe I. Infelizmente a profundidade ou qualidade limitada dos dados publicados de parada cardíaca e ressuscitação pediátrica freqüentemente limitam a força das recomendações incluídas nestas diretrizes a Classe IIa ou Classe IIb.

Diretrizes Internacionais: declaração consultiva do Internation Liaison Committe on Ressucitation

A partir da implementação das diretrizes de 1992, os representantes de 7 dos conselhos de ressuscitação do mundo constituíram da Aliança Internacional do Comitê de Ressuscitação (ILCOR). Nos 8 anos seguintes, membros do ILCOR desenvolveram declarações consultivas contendo recomendações de consenso baseadas nas diretrizes existentes de ressuscitação, experiência prática, e interpretação informal. Durante este período, uma força tarefa do ILCOR se reuniu para redigir publicações a respeito de ressuscitação do recém-nascido, lactente e criança; estas conferências resultaram em 2 declarações consultivas do ILCOR18,19.

Existe um alto grau de uniformidade nas diretrizes vigentes de ressuscitação dos recentemente-nascidos, neonatos, lactentes e crianças pequenas endossadas pelos conselhos de ressuscitação dos países desenvolvidos ao redor do mundo. As diferenças são muito mais resultado de preferências ou costumes regionais e locais, sistemas de treinamento, e disponibilidade de equipamento/medicação do que diferenças na interpretação das evidências científicas.

Para produzir a seção de ressuscitação pediátrica das Diretrizes Internacionais 2000, o Subcomitê de Ressuscitação Pediátrica da American Heart Association e outros representantes pediátricos do ILCOR identificaram publicações ou novos avanços merecedores de avaliação mais profunda no futuro. A partir desta lista foram identificadas áreas de pesquisa em vigor e envolvendo controvérsias. Avaliação baseada em evidência de cada uma destas áreas foi conduzida e debatida, culminando na designação do consenso -níveis de evidência definidos para questões específicas das diretrizes. Após identificação e cuidadosa revisão destas evidências, o Grupo de Trabalho Pediátrico da ILCOR e o Subcomitê de Ressuscitação Pediátrica da AHA atualizaram as diretrizes pediátricas e objetivamente se esforçaram em relacionar a classe de recomendação ao nível de evidência identificada.

Durante estas discussões os autores reconheceram a necessidade de fazer recomendações para intervenções e tratamentos importantes até mesmo quando o único nível de evidência era pobre ou ausente. Na ausência de dados pediátricos específicos (validade de resultados), as recomendações foram feitas tendo como base o senso comum (validade de aparência) ou pela facilidade de ensinar ou de reter as habilidades (validade de hipótese).

A fim de minimizar confusão e simplificar educação, sempre que possível e apropriado, as recomendações pediátricas são compatíveis com os algoritmos e diretrizes do SBV e SAV de adulto e neonatal. Pontos de partida de intervenções e algoritmos de adulto são mencionadas racionalmente. Finalmente a viabilidade de implementação das recomendações deve ser considerada no contexto dos recursos locais (pessoal e tecnológico) e costumes. Não se pode esperar, de nenhum protocolo ou diretriz de ressuscitação, que possa prever todas as situações possíveis. Estas diretrizes e algoritmos de tratamento devem servir como um guia para promover suporte apropriado a crianças gravemente enfermas, até que intervenções específicas e apropriadas, baseadas na etiologia, sejam reunidas e implementadas.

Os conselhos nacionais de ressuscitação existentes e em desenvolvimento foram o alvo da declaração consultiva do ILCOR. A seção pediátrica das Diretrizes Internacionais 2000 cuidou de aplicar a declaração consultiva do ILCOR e atualizar a revisão internacional das evidências para criar diretrizes consultivas para sistemas do Serviço Médico de Emergência (SME) locais e regionais e organizações que tratam de crianças. Sistemas individuais devem adaptar estas diretrizes para suas necessidades e recursos da sua comunidade, especialmente em regiões nas quais os sistemas do SME não são bem desenvolvidos. Os princípios e mecanismos de ressuscitação apresentados aqui podem ser empregados em todas as crianças, mas a aplicação e metodologia de uma Corrente da Sobrevivência específica é muito dependente do sistema do SME e disponibilidade de recursos. Materiais de treinamento específicos são necessários para atingir individualmente instrutores e provedores de ressuscitação em uma dada comunidade.

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